Ilustrado com fac-símiles e fotos raras, Com o mar por meio é um documento que ilustra uma bela amizade – esse «manjar supremo» da vida – e aproxima o leitor do universo particular de dois dos maiores nomes da literatura de língua portuguesa.
«Desta ilha de Lanzarote, com o mar por meio, mas com braços tão longos que alcançam a Bahia, nós, e os mais que cá estão, parentes e amigos, admiradores todos, vos enviamos muito saudar e votos valentes contra as coisas negativas da vida.»
A amizade entre Jorge Amado e José Saramago teve início quando os dois já iam maduros nos anos e na carreira literária. O vínculo tardio, porém, não impediu que os escritores criassem um forte laço, estendido às suas companheiras de vida, Zélia Gattai e Pilar del Río.
Reunida neste livro, a correspondência inédita entre os dois mestres da língua portuguesa vem finalmente a público. São cartas, bilhetes, cartões, faxes e mensagens várias, enviados ao longo de seis anos, com uma rica troca de ideias sobre questões tanto da vida íntima como da conjuntura contemporânea, sempre com afecto e bom humor.
Jorge Amado nasceu em Pirangi, Baía, em 1912 e faleceu a 6 de Agosto de 2001.
Viveu uma adolescência agitada, primeiro na Baía, no início dos seus estudos, depois no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito e começou a dedicar-se ao jornalismo. Em 1935 já se tinha estreado como romancista com O País do Carnaval (1931), Cacau (1933), Suor (1934), seguindo-se Terras do Sem Fim (1943) e S. Jorge dos Ilhéus (1944). Politicamente de esquerda, foi obrigado a emigrar, passando por Buenos Aires, onde escreveu O Cavaleiro da Esperança (1942), biografia de Carlos Prestes, depois pela França, pela União Soviética… regressando entretanto ao Brasil depois de ter estado na Ásia e no Médio Oriente. Em 1951 recebeu o Prémio Estaline, com a designação de ‘Prémio Internacional da Paz’.
Os problemas sociais orientam a sua obra, mas o seu talento de escritor afirma-se numa linguagem rica de elementos populares e folclóricos e de grande conteúdo humano, o que vai superar a vertente política. A sua obra tem toques de picaresco, sem perder a essência crítica e a poética. Além das já citadas, referimos, na sua vasta produção: Jubiabá (1935), Mar Morto (1936), Capitães da Areia (1937), Seara Vermelha (1946), Os Subterrâneos da Liberdade (1952). Mas é com Gabriela, Cravo e Canela (1958), Os Velhos Marinheiros (1961), Os Pastores da Noite (1964) e Dona Flor e os Seus Dois Maridos (1966), que o romancista põe de parte a faceta politizante inicial e se volta para temas como a infância, a música, o misticismo popular, a turbulência popular e a vagabundagem, numa linguagem de sabor poético, humorista, renovada com recursos da tradição clássica ligados aos processos da novela picaresca. O seu sentimento humano e o amor à terra natal inspiram textos onde é evidente a beleza da paisagem, a tradição cultural e popular, os problemas humanos e sociais – uma infância abandonada e culpada de delitos, o cais com as suas misérias, a vida difícil do negro da cidade, a seca, o cangaço, o trabalhador explorado da cidade e do campo, o ‘coronelismo’ feudal latifundiário perpassam significativamente na obra deste romancista dos maiores do Brasil e dos mais conhecidos no mundo.
Fecundo contador de histórias regionais, Jorge Amado definiu-se, um dia, «apenas um baiano romântico, contador de histórias». «Definição justa, pois resume o carácter do romancista voltado para exemplos de atitudes vitais: românticas e sensuais… a que, uma vez por outra, empresta matizes políticos…», como diz Alfredo Bosi em História Concisa da Literatura Brasileira.
Foi-lhe atribuído o Prémio Camões em 1994.
Autor de mais de 40 títulos, José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga. As noites passadas na biblioteca pública do Palácio Galveias, em Lisboa, foram fundamentais para a sua formação. «E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.» Em 1947 publicou o seu primeiro livro que intitulou A Viúva, mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título de Terra do Pecado. Seis anos depois, em 1953, terminaria o romance Claraboia, publicado apenas após a sua morte. No final dos anos 50 tornou-se responsável pela produção na Editorial Estúdios Cor, função que conjugaria com a de tradutor, a partir de 1955, e de crítico literário. Regressa à escrita em 1966 com Os Poemas Possíveis. Em 1971 assumiu funções de editorialista no Diário de Lisboa e em abril de 1975 é nomeado director-adjunto do Diário de Notícias. No princípio de 1976 instala-se no Lavre para documentar o seu projecto de escrever sobre os camponeses sem terra. Assim nasceu o romance Levantado do Chão e o modo de narrar que caracteriza a sua ficção novelesca. Até 2010, ano da sua morte, a 18 de Junho, em Lanzarote, José Saramago construiu uma obra incontornável na literatura portuguesa e universal, com títulos que vão de Memorial do Convento a Caim, passando por O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a Cegueira, Todos os Nomes ou A Viagem do Elefante, obras traduzidas em todo o mundo. No ano de 2007 foi criada em Lisboa uma Fundação com o seu nome, que trabalha pela difusão da literatura, pela defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, tomando como documento orientador a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desde 2012 a Fundação José Saramago tem a sua sede na Casa dos Bicos, em Lisboa. José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura em 1998.
Detalhes do produto
- Editora : Companhia das Letras; Novembro de 2017
- Idioma : Português
- Capa comum : 120 páginas
- ISBN :
9789896653613 - Dimensões : 125x190x12mm
Com o mar por meio - Jorge Amado, José Saramago
- Até 5 dias úteis.