estar suspensa
no ar como se o avião
fosse uma ponte
que flutua estática e nos afasta
desfrutar dessa distância etérea leve
sem raízes nem pés afincados na terra—
estar suspendida
en el aire como si el avión
fuese un puente
que fluctúa estático y nos aleja
disfrutar de esa distancia etérea leve
sin raíces ni pies hundidos en la tierra
Em levar consigo um oceano / llevar consigo un océano, Esther Blanco condensa a forma de nomear o mundo da poeta nômade, a partir de uma poética de linguagem clara e uma fluidez em consonância com as imagens aquáticas. Há, sem dúvida, nestas páginas, uma busca do minimalismo, no qual o eu lírico vai soltando lastro e, no plano gramatical, prescinde dos sinais de pontuação e das maiúsculas.
A autora desenvolve um jogo de espelhos idiomático, pois constrói os poemas a partir do bilinguismo (espanhol-português), para constatar que não há um sentido unívoco para nomear as coisas. Duas línguas românicas que atravessam distintos tempos e geografias, até o estranhamento do trânsito. Esther Blanco entrelaça cartografias que miram o mundo “como um mapa em relevo” desde o movimento ou as alturas (avião, costa, janela). Parte de uma contemplação profunda da natureza para transmitir sua beleza efêmera e os ciclos da vida, simbolizados na libélula vermelha boiando sobre o rio da existência. Assim, a escrita não deixa de ser um processo de desaprendizagem que nos permite registrar a lentidão dos dias, o tempo habitado.
A poesia de Esther Blanco, além de recriar magistralmente atmosferas, dialoga com as artes plásticas. Desde o predomínio de tons azuis (oceanos, rios, céus), há poemas que se aproximam da aquarela paisagística e outra série de textos na qual a fotografia trata de responder aos enigmas do instante efêmero do retrato. Com um tom reflexivo, a poeta aborda temas como a memória, o luto, os vínculos familiares. “Algo invisível retrata na foto seu eixo vacilante” e deixa um rastro de nostalgia por um tempo que se torna suspenso e, como a própria poesia, parece anunciar o que virá depois.Verónica Aranda (poeta)
Esther Blanco é espanhola, filóloga hispânica e mestra pela Universidade de Barcelona. Professora de língua espanhola e literatura na Espanha e no Brasil, hoje é coordenadora acadêmica do Instituto Cervantes de Salvador. Em 2016, publicou Arena de los días/Areia dos dias. Poeta selecionada no Mapa da Palavra da Funceb, tem poemas publicados em diversas revistas na Espanha e no Brasil e já participou de recitais dentro e fora do país.
Detalhes do produto
- Editora : Urutau Editora; 1ª edição ( 2023)
- Idioma : português/espanhol
- Capa comum : 162 páginas
- ISBN - 9786559005154
- Dimensões : 13x16,5 cm
Levar consigo um oceano / Llevar consigo un océano - Esther Blanco
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