O presente escrito busca, de forma poética, recordar, libertar e curar memórias do corpo que todes nós carregamos. Memórias essas que são divididas entre as vivências pós-coloniais, os percursos dos feminismos, dos achismos, sentimentalismos e intelectualismos. Todos os ismos que formam e transformam a nossa existência até aqui são instrumentos de ação poética política, consciência e resgate histórico.
Neste texto-corpo-manifesto-poético, Saru & Carol abrem-se, desalinham-se, cicatrizam-se. Com esse gesto, saram marcas que todes nós no corpo carregamos, todas nós em silêncio gritamos, todas nós no escuro escondemos. Recuperam memórias ancestrais dos seus corpos e se desfiam perante quem as lê — ora cruas, secas, ora doces, leves, mas sempre vivamente desobedientes. É nessa desobediência, nessa insistência em não-se-conformar, não-se-calar, não-se-resignar que devemos ler este escrito.
Saru & Carol me ensina(ra)m essa lou-cura que é desobedecer aos cânones estabelecidos por homens brancos cis velhos. Com elas, aprendi que devemos teimar em desalinhar, em desafiar — e que é nesse grito-ação-de-revolta em que construímos o nosso amor-próprio, mãe de todos os outros amores.
Saru & Carol me ensina(ra)m que essa desobediência é sustentada pela potência do amor. É uma desobediência corpórea, afetuosa. É uma desobediência que massageia, que penetra. É uma desobediência que pensa com os sentidos.
Saru & Carol navegam com as bruxas, os astros, os orixás. Em Memórias do corpo e seus ismos, nos embalam numa viagem poética por entre palavras-balas que transformam o luto em luta, a dor em alegria, os silêncios em gritos.
Revejo-me nestas Memórias, nestes ismos. Elas são Outras-Eu.E esta obra é para nós, as que
Transformam
porque desobedecemCalam
porque gritam (mariana riquito)
Caroline Ramos é poeta, brasileira, pesquisadora, mulher feminista e tantos outros rótulos que existem por aí. Leu a primeira poesia aos cinco anos e nunca mais esqueceu; desde então escreve para expurgar, impactar, transmutar e revolucionar. Com graduação em direito, descobriu que a justiça está nas ruas, não nos tribunais. Por isso, atualmente é doutoranda em direitos humanos no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, investiga os movimentos sociais urbanos pela luta à moradia, suas resistências e respectivas transformações subversivas artísticas. Luta para ser e pelo Ser.
Saru (Sara Jorge da Silva Vidal) nasceu a 27 de junho de 1993, em Lisboa, enraizade numa família migrante moçambicana. Poeta, não binária, académica e feminista. Escreve-se para não ser só. Numa voz existencial, irónica e reivindicativa, procura elaborar-se na poesia como uma apropriação da sua memória histórica, subjetiva e afetiva. Licenciou-se em antropologia. Atualmente é doutorande em estudos feministas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Detalhes do produto
- Editora : Urutau Editora; 1ª edição (2023)
- Idioma : Português
- Capa comum : 78 páginas
- isbn: 978-65-5900-420-1
- Dimensões : 13x16,5cm
Memórias do corpo e seus ismos - caroline ramos, saru
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