Por participar de algumas das mais importantes revoluções na Rússia do início do século XX, Mikhail Ossorguin foi preso diversas vezes e conheceu a realidade do exílio por duas delas, sendo sua última estadia em Paris. Traduzido diretamente do russo pelo professor e pesquisador Bruno Barretto Gomide, este livro traz reflexões de Ossorguin sobre a relação entre exílio, identidade, cultura e leitura, indicando, por meio de referências à história do livro russo e das edições em língua eslava, como os livros podem ser elos que nos interligam ao lugar onde nascemos e para o qual, eventualmente, não podemos mais voltar.
A Coleção Bibliofilia nasce em um momento de profundas mudanças no mundo do livro e do impresso, as quais tocam tanto a produção editorial quanto as formas de transmissão da linguagem escrita e seus mecanismos de recepção. Porém, o amor ao livro permanece. Entre colecionadores experimentados e jovens amantes da leitura, esse amor tem se convertido em movimentos de valorização da bibliodiversidade. Conhecer para valorizar. Valorizar para cuidar e preservar: não poderia ser outro o espírito que guia esses preciosos livros de bolso.
Bibliofilia e Exílio reúne textos de Mikhail Ossorguin, os quais foram coligidos e traduzidos diretamente do russo por Bruno Barretto Gomide. Ao longo de oito capítulos, dispostos em ordem temática, o leitor tem a rara oportunidade de conhecer referências e fatos relativos à história do livro russo, ou mesmo de edições em língua eslava. Mas a leitura pode também ser feita em outra chave: a do autor exilado que encontra um nexo com seu passado e com sua cultura através dos livros. Talvez, o aspecto mais importante dessas experiências no campo da bibliofilia e da bibliomania tenha sido justamente o fato dos livros, aqui compreendidos como o continente e o conteúdo, serem os protagonistas das histórias. Afinal, como o autor nos ensina, os homens vão, mas os livros permanecem. Marisa Midori Deaecto/ Plinio Martins Filho
Mikhail Ossorguin nasceu em 1878, filho de uma pequena-nobreza de propensões intelectuais e atuação reformista junto ao reinado de Alexandre II. Depois de trabalhar em repartições moscovitas, engrossou as fileiras dos Socialistas-Revolucionários, às vésperas da Revolução de 1905. Pela participação nos preparativos da revolução, redigindo textos, organizando reuniões e dando guarida a companheiros de partido, Ossorguin conheceu a primeira das detenções que amargaria na vida. Solto sob fiança, partiu para um exílio de uma década, passada principalmente na Itália. Ao retornar, em 1916, encontrou a Rússia novamente convulsionada pela guerra e pelas jornadas revolucionárias de 1917. Como a maior parte da intelliguêntsia, Ossorguin encampou a revolução de fevereiro e posicionou-se contra as políticas dos bolcheviques, o que lhe valeu novas temporadas de cadeia, em 1919 e 1921. Em setembro de 1922, ele embarcou, juntamente com mais de uma centena de outros jornalistas, escritores e cientistas rumo a Hamburgo, no que ficou conhecido como “Navio dos Filósofos” (filossófskii parokhód). Alguns de seus companheiros de “Livraria dos Escritores”, como Nikolai Berdiáiev, estavam na mesma embarcação, preparada pelos bolcheviques, com ordem expressa de Lênin, para expulsar do país intelectuais indesejáveis. Ossorguin chegou afinal a Paris, aos quarenta e cinco anos. Faleceu em novembro de 1942.
Marisa Midori Deaecto é professora livre-docente em História do Livro da Escola de Comunicações e Artes ( ECA - USP ) e doutora Honoris Causa pela Universidade Eszterházy Károly, Eger (Hungria). Império dos Livros – Instituições e Práticas de Leituras na São Paulo Oitocentista (Edusp/Fapesp, 2011), reeditado em 2019, recebeu o prêmio Jabuti da CBL (1o lugar em Comunicação) e o Prêmio Sérgio Buarque de Holanda, outorgado pela Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro na categoria melhor ensaio social. Publicou, recentemente, História de um Livro. A Democracia na França, de François Guizot (Ateliê Editorial, 2021).
Plinio Martins Filho é doutor em editoração pela USP e atua no mercado editorial há mais de 35 anos. Foi professor de Editoração na Anhembi Morumbi e leciona no curso de Editoração na ECA-USP. Trabalhou durante dezoito anos na Editora Perspectiva. Trabalhou como diretor-presidente da Edusp. Trabalha na Biblioteca Brasiliana Mindlin.
Bruno Barretto Gomide é professor livre-docente de Literatura e Cultura Russa na USP. Doutor pela Unicamp, com estágio CAPES em Berkeley e pós-doutorado na EHESS. Professor e pesquisador visitante no IMLI (Moscou), Púchkinski dom (S. Petersburgo), Harvard, IAI (Berlim) e nas Universidades de Glasgow e Londres. Autor de, entre outros, Da Estepe à Caatinga: o Romance Russo no Brasil (Edusp, 2012), Dostoiévski na Rua do Ouvidor: a Literatura Russa e o Estado Novo (Edusp, 2018) e Antologia do Pensamento Crítico Russo (org., Editora 34, 2013)
Detalhes do produto
- Editora : Edições Sesc
- 1ª edição (20 agosto 2023)
- Idioma : Português do Brasil
- Capa dura : 132 páginas
- ISBN-13 : 978-6586111873
- Dimensões : 10 x 1.3 x 15 cm
Bibliofilia e exílio: Mikhail Ossorguin e o livro perdido - Mikhail Ossorguin
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